POLÍTICA

Milícias bolsonaristas atacam a imprensa

Os ataques sistemáticos do presidente da República a jornalistas começam a sair das redes sociais e se materializar em violência contra profissionais e pichações nas ruas
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 15 de maio de 2020
Ainda candidato, Bolsonaro já utilizava ataques sistemáticos à imprensa como estrategia para manter seus apoiadores mobilizados

Foto: Tânia Rego/Agencia Brasil

Ainda candidato, em 2018, Bolsonaro já utilizava ataques sistemáticos à imprensa como estratégia para manter seus apoiadores mobilizados

Foto: Tânia Rego/Agencia Brasil

Apenas nos primeiros quatro meses deste ano, o presidente Bolsonaro proferiu 179 ataques aos profissionais da imprensa, uma média de mais de um xingamento por dia, segundo levantamento da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). O ataque de ódio diário vem sendo reproduzido por seus seguidores e preocupando as entidades representativas da categoria. O fato mais recente foi a frase “Jornalista bom é jornalista morto”, pixada, nesta última quinta-feira, 14, em Belo Horizonte, em um tapume que protege uma barraca de triagem de pessoas suspeitas de contaminação pela Covid-19.

No início do mês, repórteres fotográficos do Estadão foram agredidos por apoiadores de Bolsonaro com chutes e socos enquanto cobriam atos públicos, na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, próximo ao acampamento do grupo 300 do Brasil, que se autodenominam “milícia armada de extrema direita”.

A presidente da Fenaj, Maria José Braga, diz que se tornou nítido que o objetivo principal de Bolsonaro é desacreditar o trabalho da imprensa. Mas, o efeito colateral das atitudes do presidente é o estímulo a violência física contra os jornalistas. Começam a pipocar fatos.

Jornalista bom é jornalista que incomoda

Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) reagiu ao ataque

Foto: Reprodução/YouTube

Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG) reagiu ao ataque

Foto: Reprodução/YouTube

As pichações em Belo Horizonte foram imediatamente cobertas por cartazes feitos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG). A entidade pediu respeito aos trabalhadores da imprensa usando frases como “Jornalista bom é jornalista que incomoda”.

Outras manifestações de ódio como a frase “colabore com a limpeza do Brasil, mate um jornalista, um artista comunista por dia”, também foram cobertas pelos dirigentes sindicais.

Alessandra Mello, , a presidente do SJPMG, fez questão de participar da ação

Foto: Reprodução/YouTube

Alessandra Mello, presidente do SJPMG, fez questão de participar da ação

Foto: Reprodução/YouTube

Revoltada, a presidente do SJPMG, Alessandra Mello, participou pessoalmente da ação e declarou: “não é a primeira vez que vocês (fascistas) fazem ameaças contra a gente e não será a primeira vez que vocês serão derrotados”.

Ela ainda lembrou que a Casa do Jornalista foi alvo de ameaças semelhantes durante a ditadura militar, mas resistiu. “Vamos resistir. Ninguém vai nos calar e vamos continuar denunciando esses desmandos”, ressaltou. A Casa do Jornalista é um tradicional centro cultural de Belo Horizonte, sediado no SJPMG.

Na busca dos responsáveis, o sindicato ainda conta com o procurador do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Edson Ribeiro Baeta , que se colocou à disposição da entidade para acompanhar as apurações.

O presidente instiga seus apoiadores

Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

Foto: Forum Nacional pela Democratização da Comunicação/Divulgação

Maria José Braga, presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj)

Foto: Forum Nacional pela Democratização da Comunicação/Divulgação

A presidente da Fenaj, Maria José Braga, diz que a entidade tem acompanhado e endossado todas as atividades que a classe tem promovido no combate ao que chama discurso de ódio crescente que se volta contra jornalistas e veículos da imprensa.

“No próprio dia 3 de maio, uma equipe do jornal O Estado de São Paulo foi agredida com murros, rasteiras, empurrões e chutes por partidários de Bolsonaro. Os jornalistas registravam um ato em que manifestantes apoiavam o governo, defendiam o fim do isolamento social e outras pautas inconstitucionais e antidemocráticas como o fechamento do Congresso e do Supremo Tribunal Federal”, recorda a dirigente.

Enquanto jornalistas eram espancados pelos bolsonaristas, o mundo inteiro comemorava o Dia Internacional da Liberdade da Imprensa, instituído pela ONU em 20 de Dezembro de 1993. Nada é por acaso.

Tentativas de cerceamento

Ainda ontem, em live com empresários de São Paulo, Bolsonaro pediu para estes não anunciar em jornais que, na opinião dele, fazem cobertura negativa e desequilibrada do governo. “Vocês que anunciam em jornais e televisões. Tem TV e jornal que vive esculhambando o Brasil. Por favor, não anunciem mais nessa televisão e nesse jornal. Vão para outras TVs e outros jornais, que tenham um jornalismo sério, que não fique levando o terror o tempo todo entre lares aqui no Brasil”​, falou.

No mesmo tom, em 8 de abril passado o governador de Santa Catarina, Carlos Moisés da Silva, também sugeriu em evento transmitido por rede social que empresários pressionassem os veículos de comunicação a praticarem um “jornalismo decente”.

Em nota, a Fenaj e o Sindicato dos Jornalistas de Santa Catarina questionaram fortemente Silva, ressaltando que a manifestação do governador “promove e estimula o cerceamento à liberdade de imprensa”.

Mais alinhado com as pichações de Minas Gerais, também ontem, o empresário e ex-senador da República pela Paraíba, Roberto Cavalcanti (Republicanos), chegou a dizer que jornalistas e radialistas devem ser “apedrejados” diante da divulgação de mortes causadas pelo novo coronavírus no Brasil. Cavalcanti é proprietário do sistema Correio de Comunicação e chegou a recuar da sua manifestação, mas também foi alvo de protestos dos profissionais da imprensa.

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