POLÍTICA

Padres e bispos acusam deputado de ferir liberdade religiosa

Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 18 de outubro de 2021

Foto: Maurício Garcia de Souza/Alesp/Divulgação

O deputado bolsonarista atacou nas redes sociais o arcebispo de Aparecida do Norte, Dom Orlando Brandes

Foto: Maurício Garcia de Souza/Alesp/Divulgação

Em Nota, divulgada na tarde desta segunda-feira, 18, os coletivos Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo defendem que o deputado estadual de São Paulo, Frederico D’Ávila (PSL), deve ser responsabilizado por infringir o artigo 5º da Constituição Federal, que assegura a liberdade religiosa para a população brasileira.

No último dia 14, o deputado bolsonarista atacou o arcebispo de Aparecida do Norte, Dom Orlando Brandes, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e o Papa Francisco por seus posicionamentos decorrentes de interpretações do Evangelho.

A Nota, subscrita por mais de 400 padres e 13 bispos católicos, também cobra do presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, deputado Carlão Pignatari (PSDB), providências para que D’Avila “seja exemplarmente punido”.

Os sacerdotes ressaltam sua indignação com o discurso de ódio do parlamentar que, “no lugar de buscar o consenso para a proteção e o progresso do povo”, defende interesses escusos de grupos econômicos. Para os Padres da Caminhada e Padres Contra o Fascismo, o deputado D’Avila “representa o que há de pior na política brasileira atual”.

Leia na Íntegra a Nota

“Se falei mal, mostra em que; se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23)

Nota de solidariedade à Via Campesina e ao Movimento dos trabalhadores rurais sem terra (MST) ameaçados de morte e a Dom Orlando Brandes, à CNBB e ao Papa Francisco, covardemente ofendidos

Assim como boa parte da população brasileira, independente de sua fé, estamos estarrecidos diante das palavras violentas e ofensivas do Deputado Estadual Frederico D’Ávila – PSL/SP proferidas no último dia 14 de outubro contra a Via Campesina e o MST, contra Dom Orlando Brandes, arcebispo metropolitano de Aparecida, a CNBB e o Papa Francisco.

Suas palavras não feriram somente aquelas e aqueles que professam a fé católica, nem somente as cidadãs e cidadãos paulistas – a quem o Sr. Deputado deveria representar melhor. Suas palavras, pela agressividade, ferem todas brasileiras e todos os brasileiros.

Ele ameaçou com “cacete e bala” a Via Campesina e o MST, movimentos populares que lutam pelo direito à terra e a defesa da produção de alimentos para a população. Ele ofendeu falsa e injustamente Dom Orlando Brandes, arcebispo metropolitano de Aparecida, a CNBB e o Papa Francisco porque erguem sua voz a favor dos pobres. Trata-se de um ataque de grandes proporções e, por isso, expressamos veementemente nosso repúdio às suas palavras de ódio e de descaso.

O Sr. Deputado representa o que há de pior na política brasileira atual – no lugar de buscar o consenso para a proteção e o progresso do povo, sobretudo depois da tragédia da pandemia, ele defende interesses escusos de grupos econômicos de seu interesse mediante o ataque àquelas e àqueles que se posicionam em divergência. Política se faz com diálogo e respeito – o Sr. Deputado Estadual Frederico D’Ávila é um facínora como o Sr. Presidente da República, a quem ele constantemente faz apologia.

O armamento da população sustentado por ele – e também pelo Sr. Jair Messias Bolsonaro – é uma afronta ao povo brasileiro, especialmente as e os mais vulneráveis. As armas só servirão para uma coisa: continuar o genocídio de pobres, dos povos originários, de afrodescendentes, de mulheres, de LGTBQIA+’s, entre outros. A frase profética de Dom Orlando Brandes, dita apenas dois dias da infeliz fala do Sr. Deputado, expressa muito bem isso: “Para ser pátria amada, não pode ser pátria armada (…)”.

O discurso de ódio de Frederico D’Ávila e de todos os que se posicionam com ele – incluindo grupos que, infelizmente, se dizem católicos – fere todo nosso povo. Sua aporofobia não é só vergonhosa; é criminosa: jamais um representante eleito pelo povo pode usar a tribuna de uma casa legislativa para ameaçar de morte grupos comprometidos com os menos favorecidos. É um crime contra a nação!

Contudo, não podemos nos esquecer de que ele também infringiu o artigo 05, VI da Constituição Federal de 1988 que assegura a liberdade religiosa à população brasileira. Portanto, deve ser responsabilizado por tal. Em nossa nota de solidariedade a Dom Orlando Brandes, à CNBB e ao Papa Francisco, vilmente atacados por Frederico D’Ávila, também pedimos ao Presidente da ALESP, o Sr. Deputado Estadual Carlão Pignatari – PSDB/SP, que tome as devidas providências para que ele seja exemplarmente punido.

Concluímos este texto citando a mesma passagem bíblica usada por Dom Pedro Luiz Stringhini, bispo diocesano de Mogi das Cruzes e presidente do Regional Sul 1 da CNBB, ao se referir ao vil ataque: “se falei mal, mostra em que; se falei bem, por que me bates?” (Jo 18,23). Em suas justas reivindicações por terra a Via Campesina e o MST falam bem exigindo o direito humano fundamental à terra. Dom Orlando falou bem na Solenidade de Nossa Senhora Aparecida; a CNBB tem falado bem sempre insistindo no respeito à democracia; o Papa Francisco, desde sua eleição em 2013, fala muito bem ao chamar a atenção de todas e todos para os pobres.

Por que, então, Sr. Deputado, bater neles?

Padres da Caminhada & Padres Contra o Fascismo

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