Frei Betto lota teatro em Caxias do Sul após censura em escola e vende 43 quilos de livros
Foto: Gilmar Gomes/Evento/Divulgação
“Sucesso de público! Fizeram publicidade!”. Foi assim que o teólogo e escritor Carlos Alberto Libânio Christo, o Frei Betto, se referiu a sua palestra proferida nessa terça-feira, 13, em Caxias do Sul, e que teve que ser mudada de local às pressas devido a um abaixo-assinado bolsonarista contra a sua presença no tradicional Colégio São José.
Na realidade, a lotação do Teatro da Universidade de Caxias do Sul (UCS), com cerca de 200 lugares a mais do que o espaço anterior já estava na previsão do dominicano.
Tanto é que, bem humorado, ele chegou a declarar em uma das inúmeras entrevistas que teve de conceder somente na segunda-feira, 12, que iria dobrar a quantidade de livros que geralmente leva para vender em eventos por conta da publicidade extra gerada pelo movimento de extrema direita contra sua palestra. Todos foram vendidos. “E eram 43 quilos de livros!”, comemora.
“Não sei exatamente quantos exemplares na carga de 25 obras diferentes que levei. Só sei o peso porque vi quando os despachei na companhia aérea”, explica. Um livro de 200 páginas pesa em média 230 gramas. Então, foram vendidos aproximadamente 200 exemplares.
Segurança reforçada
O evento foi organizado pelo fórum de sindicatos e movimentos populares da região serrana. Nelso Bebber, diretor do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul e Região, registra que houve uma grande procura de última hora por ingressos após a comunidade religiosa do São José ter sido pressionada a não mais ceder o seu espaço.
“Muitos alunos da universidade e gente da comunidade ficou indignada e compareceu em peso”, diz.
O clima de solidariedade que contrastou com os oito graus da temperatura na ocasião, registrada por Frei Betto, não fez, no entanto, com que a UCS e os organizadores da palestra se descuidassem.
“Essa tensão é permanente em Caxias. Não foi um fato isolado”, registra Bebber, ao lembrar que a segurança foi reforçada.
Jesus, fome e desigualdade
Foto: Gilmar Gomes/Evento/Divulgação
Na palestra, Frei Betto, um dos principais nomes ligados à criação do programa Fome Zero durante o primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), afirmou: “nós precisamos do pão nosso, mas precisamos também do Pai Nosso, que é do sentido que nós atribuímos à existência, uma fome do sentido da vida. Quando eu me deparo com o evangelho, fico muito impressionado com esse fator. Como, na prática de Jesus, não houve nenhuma separação entre sua atividade pastoral e sua atividade social. Jesus não fazia essa distinção, até porque a única maneira de um cristão amar e servir a Deus é amando e servindo ao próximo. Quem diz amar a Deus sem amar o próximo, está mentindo”.