SAÚDE

País tem quase 40 mil infectados e 2,5 mil mortos por coronavírus

Enquanto a pandemia avança, bolsonaristas fizeram carreatas nas principais capitais, pedindo fim do isolamento social, contra o STF e o Congresso. Em Brasília, Bolsonaro fez comício
Por Gilson Camargo / Publicado em 19 de abril de 2020
Em Brasília, Bolsonaro subiu na carroceria de uma caminhonete e fez um discurso intercalado por acessos de tosse

Foto: Twitter/ Reprodução

Em Brasília, Bolsonaro subiu na carroceria de uma caminhonete e fez um discurso intercalado por acessos de tosse

Foto: Twitter/ Reprodução

O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) desrespeitou mais uma vez as medidas de isolamento social para conter a pandemia da Covid-19 recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e reiteradas pelo seu novo ministro da Saúde, Nelson Teich em reunião do G20 neste domingo, e, pela segunda vez no final de semana, participou de uma manifestação pela reabertura do comércio.

Vestidos de verde e amarelo, envoltos em bandeiras do país e empunhando cartazes, manifestantes ocuparam a frente do Quartel General do Exército em Brasília na tarde deste domingo, dia do Exército. Pediam intervenção militar e gritavam Fora Maia, AI-5, Fecha o Congresso e Fecha o STF. Bolsonaro subiu na carroceria de uma caminhonete e fez um discurso intercalado por acessos de tosse. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil. O que tinha de velho ficou para trás. Nós temos um novo Brasil pela frente. Todos, sem exceção, têm que ser patriotas e acreditar e fazer a sua parte para que nós possamos colocar o Brasil no lugar de destaque que ele merece. Acabou a época da patifaria. É agora o povo no poder”, disse, alheio à pandemia que já matou quase 2,5 mil pessoas no país e como se estivesse em campanha.

Para delírio de um grupo de fanáticos enrolados em bandeiras do Brasil, o presidente sugeriu mais uma vez que as mortes decorrentes de uma contaminação em massa provocada pelo eventual fim do isolamento que ele pretende seriam pelo bem do país. “Todos no Brasil têm que entender que estão submissos à vontade do povo brasileiro. Tenho certeza, todos nós juramos um dia dar a vida pela pátria. E vamos fazer o que for possível para mudar o destino do Brasil”, conclamou. O comportamento do presidente gerou críticas das presidências da Câmara, do Senado, da OAB, entre outras autoridades. O STF não se manifestou. “É totalmente absurda a atitude do Presidente Jair Bolsonaro de ir diante de um quartel e pedir intervenção militar no Brasil. Ele está descumprindo a Constituição, que jurou cumprir, e desobedece diariamente as recomendações da OMS”, reagiu o vereador de São Paulo, Eduardo Suplicy (PT). Foram registrados atos em Brasília, São Paulo, Belo Horizonte, Fortaleza, Maceió, Goiânia, Salvador, Manaus, Goiânia e Recife, além de cidades do interior do Rio e de São Paulo. Em alguns estados, ocorreram detenções de manifestantes. Em Fortaleza, uma mulher foi presa pela Força de Segurança Nacional. Em Porto Alegre, a fotógrafa Márcia Velasques Campos foi agredida por dois manifestantes bolsonaristas, um deles identificado como Paulo Miguel Rempel, enfermeiro, morador da capital.   

Nos cemitérios Vila Formosa e São Luiz (foto), na capital paulista, 300 novas covas foram abertas no sábado para sepultamento de vítimas da Covid-19

Foto: Reprodução

Nos cemitérios Vila Formosa e São Luiz (foto), na capital paulista, 300 novas covas foram abertas no sábado para sepultamento de vítimas da Covid-19

Foto: Reprodução

PANDEMIA – Na mesma tarde, o Ministério da Saúde divulgou uma atualização dos números do novo coronavírus. Até às 14h, eram 38.654 casos confirmados da doença e 2.462 mortes. A taxa de letalidade se manteve em 6,4%. Entre as 14h de sábado e as 14h de domingo foram notificados 2.055 novos casos e 110 mortes.

Obstruídas pela disputa política de Bolsonaro que, na última quinta-feira demitiu o ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, as ações efetivas estão longe de um plano de governo para equipar o sistema de saúde e são inexpressivas diante do avanço da doença. O número de recuperados permanece em 14.026, que representam cerca de 38% dos infectados. Os últimos dados sobre as pessoas curadas são de sábado, quando o número de casos confirmados estava em 36.599. A Região Sudeste registra 21.285 (55,1%) casos confirmados da doença. Em seguida, aparecem as regiões Nordeste, com 9,3 mil (24,1%); Norte, com 3.691 (9,5%); Sul, com 2.816 (7,3%), e Centro-Oeste, com 1.562 (4%). O Rio Grande do Sul tem 26 óbitos e 869 casos confirmados. Com o oncologista carioca Nelson Teich até a transparência do ministério em relação à pandemia mudou. Desde a saída de Mandetta foram canceladas as coletivas de imprensa diárias do ministro e dos técnicos da Saúde. As atualizações são feitas no site da pasta, de maneira resumida e sem o contraponto dos secretários.

Em videoconferência de ministro da Saúde do G20, Teich desconversou mais uma vez sobre sua estratégia para enfrentar a pandemia

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação

Em videoconferência de ministro da Saúde do G20, Teich desconversou mais uma vez sobre sua estratégia para enfrentar a pandemia

Foto: Ministério da Saúde/ Divulgação

Empossado na última sexta-feira, Teich participou neste domingo da sua primeira agenda internacional, uma reunião de ministros da Saúde do G20. Ele destacou o papel da OMS na luta contra a pandemia do novo coronavírus e defendeu que os países do bloco busquem uma cobertura de saúde universal e de qualidade. Em inglês, enfatizou “a necessidade de uma abordagem integrada com outras organizações”, mas afirmou que “o Brasil reconhece o papel da OMS”.

O ministro assegurou que o país está comprometido no trabalho em conjunto com os organismos internacionais. O ministro criticou as chamadas fake news e afirmou que a disseminação de informações falsas é um problema no combate à pandemia. Ele ressaltou ainda a atuação do governo na ajuda a estados e municípios, destacando que US$ 2 bilhões em recursos federais foram empregados na distribuição de materiais e equipamentos hospitalares. Mas manteve a cautela ao falar sobre a estratégia que pretende adotar para o enfrentamento da pandemia no país. “Precisamos realmente entender o que está acontecendo para que a gente consiga desenhar as políticas e ações que vão nos ajudar a passar por isso da forma mais rápida”, disse ele.

Mortes por coronavírus crescem 136% no interior e litoral de SP

Sepulturas abertas no sábado no cemitério Vila Formosa, em SP

Foto: Sindsep/ Divulgação

Sepulturas abertas no sábado no cemitério Vila Formosa, em SP

Foto: Sindsep/ Divulgação

O número de óbitos pelo novo coronavírus no interior e litoral do estado de São Paulo mais que dobrou na última semana. Balanço da Secretaria de Estado da Saúde aponta crescimento de 136% em comparação ao dia 11.

Nas últimas 24 horas foram 142 óbitos pela Covid-19. Já são 61 cidades fora da Região Metropolitana com registro de pelo menos uma morte pela doença, 24 municípios a mais do que uma semana atrás. As quatro regionais de saúde que concentram o maior número de óbitos fora da Grande São Paulo são Campinas (30), Baixada Santistas (29), Bauru (14) e Ribeirão Preto (11).

“O avanço da mortalidade pela doença em cidades fora da região metropolitana reforça a importância da adesão à quarentena por todos os moradores do interior e litoral de SP”, afirma o Secretário de Estado da Saúde, José Henrique Germann.

CEMITÉRIOS EM ALERTA – No último sábado, 18, retroescavadeiras começaram a trabalhar na abertura de sepulturas extras no cemitério da Vila Formosa, na Zona Leste da capital de São Paulo. O trabalho de abertura de covas foi intenso também no Cemitério do Jardim São Luiz, na Zona Sul. De acordo com o Sindicato dos Trabalhadores na Administração Pública e Autarquias no Município de São Paulo (Sindsep), foram abertas 300 covas extras. A entidade representa os trabalhadores do serviço funerário municipal, que foram colocados em prontidão a partir de um decreto assinado no dia 15 pelo prefeito da capital paulista, Bruno Covas, que cria o plano de contingência devido ao aumento de mortes pela Covid-19.

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