SAÚDE

Estado pode superar 20 mil óbitos por covid-19 até final de março

Projeções com base na evolução da pandemia em Portugal, Suécia e Paquistão, países que têm similaridades com o RS, apontam que a crise pode se agravar sem lockdown
Por Gilson Camargo / Publicado em 16 de março de 2021
Lotação de leitos de UTI oscila acima de 110% no estado, que está com alerta máximo de contágio

Foto: Agência Brasil

Lotação de leitos de UTI oscila acima de 110% no estado, que está com alerta máximo de contágio

Foto: Agência Brasil

A plataforma Covid-19 Analysis Tools, criada pelo Instituto de Informática da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (Ufrgs) para fazer projeções da pandemia a partir de similaridades no mundo estima que o Rio Grande do Sul poderá superar os 20 mil óbitos por covid-19 até os primeiros dias de abril e atingir quase 25 mil mortes ainda na primeira quinzena do próximo mês.

Na segunda-feira, 15, última atualização de dados pela Secretaria Estadual da Saúde, o estado registrou um total de 744.844 casos, sendo 2.618 em 24 horas, e 15.104 mortes, das quais 148 foram notificadas em um dia. O RS está classificado com a bandeira preta, que indica alto risco de contágio, no mapa de distanciamento controlado, uma classificação que deverá perdurar até abril, de acordo com o governo do estado. A taxa de ocupação de leitos atingiu 109,6%.

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

A pedido do Extra Classe, foram feitas projeções para sete, 14, 21 e 28 dias a partir do dia 15 de março. A tendência apontada pelo sistema da universidade é de que o estado atinja 16.395 óbitos até 19 de março, 18.641 até 26 de março, 21.322 até 2 de abril e 24.439 mortes até 9 de abril.

As estimativas sobre o número de óbitos consideram a tendência dos 14 dias anteriores e comparam a realidade de países que têm similaridades com o RS em relação aos números da pandemia. A margem de erro é de três pontos percentuais e está sujeita a variações a depender da adoção de medidas de isolamento e distanciamento social mais ou menos rígidas, explica o professor João Luiz Comba, coordenador do projeto.

Os dados são usados para fazer uma “regressão polimonial” que define uma curva de crescimento dos dados. “Esta é uma aproximação simples, mas que fornece resultados dentro de uma margem de erro de três pontos percentuais, para mais ou para menos. Além de 14 dias a previsão pode começar a apresentar mais erros, pois outros fatores externos podem impactar a evolução dos dados, com relaxamento ou adoção de medidas restritivas, ressalva.

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

O sistema permite identificar automaticamente lugares no mundo que têm crescimento dos dados similares. “A curva de total de óbitos no RS é similar a países como o Paquistão, Suécia e Portugal. Todos esses lugares registram de 13 mil a 14 mil óbitos por covid-19 e tiveram o primeiro óbito há 350-360 dias”, compara.

As estimativas para os próximos 28 dias no RS comparam as tendências da pandemia no estado e nos países que servem de parâmetro para o estudo. “Atualmente, a taxa de crescimento no total de óbitos no RS tem forte tendência de alta, enquanto que Suécia e Portugal têm forte tendência de queda. O Paquistão tem leve tendência de queda”, assinala Comba.

Comparativo entre as curvas de óbitos: Portugal apresenta tendência de queda e o RS de crescimento. As curvas se cruzam pela última vez em 9 de fevereiro de 2021

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

Comparativo entre as curvas de óbitos: Portugal apresenta tendência de queda e o RS de crescimento. As curvas se cruzam pela
última vez em 9 de fevereiro de 2021

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

Segundo ele, a comparação com Portugal é particularmente interessante para os gaúchos porque aquele país apresentou uma forte tendência de alta a partir de 4 de janeiro de 2021.

Em 15 de janeiro, portanto, 11 dias depois do pico que levou ao colapso o sistema de saúde, Portugal adotou medidas restritivas. “O crescimento continuou em alta mesmo com medidas severas de lockdown.

A previsão de óbitos para 28 dias considera a tendência de alta dos últimos 14 dias e pode ser reduzida de forma similar a Portugal, que teve uma queda drástica de óbitos após 40 dias da tendência de alta com medidas de distanciamento social. O RS está há 14 dias da adoção de medidas restritivasSomente a partir de 15 de fevereiro, um mês depois do lockdown declarado, o número de óbitos iniciou um processo de queda. Passados dois meses, em 15 de março, o país já apresentava números de mortes diárias abaixo de 20”, aponta.

A previsão de óbitos para 28 dias considera a tendência de alta dos últimos 14 dias e pode ser reduzida de forma similar a Portugal, que teve uma queda drástica de óbitos após 40 dias da tendência de alta com medidas de distanciamento social. O RS está há 14 dias da adoção de medidas restritivas

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

A previsão de óbitos para 28 dias considera a tendência de alta dos últimos 14 dias e pode ser reduzida de forma similar a Portugal, que teve uma queda drástica de óbitos após 40 dias da tendência de alta com medidas de distanciamento social. O RS está há 14 dias da adoção de medidas restritivas

Fonte: Instituto de Informática/ Ufrgs

O estado tem uma curva de crescimento de óbitos que se inicia em 18 de fevereiro. Assim como em Portugal, 10 dias depois, o estado adotou medidas mais restritivas.

Mas ao contrário do RS, em Portugal as medidas foram mais severas. “Se a evolução do crescimento de óbitos no RS for similar a Portugal, teremos somente uma tendência de queda a partir de 30 de março, um mês depois, e uma estabilização a partir de 30 de abril”, avalia. Essa estimativa, no entanto, depende de vários fatores e de como as restrições serão seguidas. “A nossa predição estima que o RS irá passar o total de óbitos de Portugal a partir do dia 21 de março. Com a previsão atual, o estado deve superar o número de 20 mil óbitos em 1º de abril”, projeta.

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