EDUCAÇÃO

Estácio desiste de curso de medicina em Ijuí

Após dois anos de lobby junto ao governo, a gigante do setor mercantil de educação voltou atrás em seus planos para o noroeste do estado
Publicado em 25 de outubro de 2016

Estácio desiste de curso de medicina em Ijuí

Foto: Portal Estácio

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O grupo educacional Estácio de Sá decidiu não implementar o curso de medicina em Ijuí (RS), apesar da autorização recebida do Ministério da Educação – MEC e divulgada no final de setembro. Outras três instituições também foram autorizadas no estado: URI (Erechim); Unisinos (São Leopoldo) e Feevale (Novo Hamburgo). A desistência foi confirmada em nota oficial da instituição, que ainda aguarda a publicação oficial da informação pelo MEC.

Na nota, a Estácio esclarece que a desistência se deu “considerando o tempo decorrido entre a expectativa inicial da divulgação do resultado e a sua efetiva divulgação, e por outras razões avaliadas – técnicas, financeiras, acadêmicas e logísticas”. A desistência ocorre após uma disputa de quase dois anos de intenso lobby junto ao governo, a União dos Cursos Superiores, mantenedora da Faculdade Estácio foi escolhida pelo MEC para a implantação de curso de medicina em Ijuí, na Região Noroeste, no Rio Grande do Sul. A instituição vinha buscando essa autorização desde o final de 2014 por meio do edital do Programa Mais Médicos. A próxima etapa do processo seria a assinatura do Termo de Compromisso.

A escolha da Estácio em detrimento da Unijuí, instituição comunitária com multicampi nas cidades de Ijuí, Panambi, Santa Rosa, Três Passos, além do Polo de atendimento da educação a distância, provocou manifestações de repúdio logo depois do anúncio, no dia 27 de setembro passado. “Defendemos a ampliação dos cursos de medicina no âmbito do programa Mais Médicos no estado e no país, como alternativa para a qualificação da saúde, ampliação da oferta de ensino e mercado de trabalho para os professores. Mas repudiamos o caráter esdrúxulo dessa concessão de curso a uma instituição inexistente na região e em detrimento da Unijuí, de indiscutível prestígio educacional”, conforme criticou na ocasião, Marcos Fuhr, diretor do Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS).

A Estácio é a segunda maior empresa de educação superior do país, com 588 mil estudantes e fechou 2015 com lucro líquido de R$ 415 milhões. E foi justamente alicerçado nessa robustez econômica que o grupo entrou na disputa pelo curso de medicina no interior gaúcho há dois anos. Mesmo sem contar com qualquer unidade física ou atuação educacional no Alto Uruguai, venceu a disputa. Além da ausência no cenário educacional da região, a Estácio não tem boas referências também em relação à oferta de graduação em medicina. Em dezembro de 2014, a Faculdade de Medicina Estácio de Juazeiro do Norte (FMJ) ficou na 162° posição no ranking de avaliação dos cursos de medicina pelo próprio MEC. A avaliação considerou titulação do corpo docente, infraestrutura da instituição, qualidade de ensino, avaliação do mercado e até as notas dos estudantes no Enade. Paralelo a isso, a Estácio está sendo adquirida pelo maior grupo do setor, o Kroton, numa negociação que aguarda a decisão do Cade sobre a fusão que envolve R$ 5,5 bi.

Estácio desiste de curso de medicina em Ijuí

Foto: Portal Estácio

Foto: Portal Estácio

Instituições preteridas
Em 2015, quando foi anunciado o resultado preliminar do edital que autorizava instituições de ensino a implantar novos cursos de medicina em 36 municípios do país, a FeteeSul, o Sinpro/RS e demais sindicatos de professores e técnicos administrativos da educação no RS já alertavam, em nota pública, sobre o caráter político de um processo inicialmente “cercado de muita cautela, exigências e critérios rigorosos, contemplando instituições sólidas e com larga trajetória de atuação”. Para a Federação e os sindicatos causava estranhamento o fato de a Unijuí, já naquele estágio do processo, ter sido preterida por uma instituição de fora do estado. “A Unijuí, instituição comunitária com sede no município de Ijuí, com reconhecidos serviços prestados à região, pautada pela qualidade de ensino, pesquisa e extensão, foi preterida em favor de outra instituição, que sequer tem sede na cidade, atua em outros centros, é verdade, mas não tem relação com a comunidade e o desenvolvimento regional”.

As entidades também manifestaram preocupação pelo fato da Unisinos, “uma instituição de excelência, com história, reconhecida nacionalmente pela qualidade de ensino e pela sua ótima infraestrutura instalada” não ter sido contemplada, naquela fase do processo. A Unisinos, agora, é uma das instituições habilitadas pelo MEC para a oferta de graduação em medicina.

Em Portaria publicada nesta terça-feira, 27 de setembro, o Ministério da Educação divulgou os municípios e instituições de educação superior selecionados para implantar cursos de medicina em diferentes municípios do país que ainda não contam com oferta nessa área. Com a iniciativa, serão abertas até 2.460 vagas para a formação de médicos. A portaria da Secretaria de Regulação e Supervisão da Educação Superior (Seres) do MEC contém a relação de mantenedoras de instituições de educação superior selecionadas e classificadas no âmbito da chamada pública do Edital nº 6/2014, referente ao programa Mais Médicos, suspenso em outubro de 2015, por decisão do Tribunal de Contas da União, e retomado este ano, após a posse do atual ministro da Educação, Mendonça Filho. As mantenedoras que tiveram as propostas selecionadas devem se apresentar à Seres até 11 de outubro para a entrega da garantia de execução e assinatura de termo de compromisso. Também está previsto o monitoramento da implantação dos projetos apresentados. De acordo com cada proposta selecionada, o processo pode ser realizado entre três e 18 meses.

A relação das mantenedoras classificadas para a oferta de graduação em medicina pode ser acessada em Portaria da Seres nº 545/2016.

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