EDUCAÇÃO

Mercado de formaturas virou um negócio milionário

Empresas de eventos de formatura em todos os níveis de ensino seguem em alta mesmo com economia em queda e aquecem setor audiovisual
Por Adriana Lampert / Publicado em 23 de dezembro de 2022
Mercado de formaturas virou um negócio milionário

Foto: Gabriela Silva/Rede São Francisco/Divulgação

Na Rede de Escolas São Francisco cada comissão atua também para organizar os eventos, denominados na instituição como celebrações de encerramento – realizadas no Nível II (educação infantil, transição para o 1° ano do ensino fundamental), 9° ano e 3° ano do Ensino Médio

Foto: Gabriela Silva/Rede São Francisco/Divulgação

O glamour das cerimônias de conclusão de um curso superior está sendo desejado cada vez mais cedo entre estudantes dos ensinos fundamental e médio de todo o País.

Seguindo os passos de universitários que, na última década, impulsionaram o mercado de produtoras de formaturas demandando verdadeiras noites de gala para marcar o encerramento de ciclo, alunos da rede privada de ensino fundamental, médio e técnico também têm demandado por festas recheadas de pompas no final de cada nível educacional.

De acordo com pesquisa da Associação Brasileira das Empresas de Eventos (ABEOC Brasil), o lucrativo mercado das festas de formatura movimentou cerca de R$ 1,7 bilhão em 2018 – pouco mais de 10% de todo o valor gerado pela organização de cerimônias sociais naquele ano.

Esses são os dados mais recentes do setor, que, por conta da pandemia de covid-19, não realizou novos levantamentos. Uma pequena amostra no Rio Grande do Sul, com recorte para a grande Porto Alegre revela que uma única empresa pode movimentar cerca de R$ 1,6 milhão no mês de dezembro, somente com eventos do gênero.

À frente de uma das empresas mais atuantes da região do Vale dos Sinos e Serra Gaúcha, o diretor da Dardo Produtora Ltda, Ardelino Bortolini, afirma que desde 2020 o mercado se retraiu em valores.

Segundo ele, com o advento da pandemia houve um período de menor número de formandos contratando os serviços, o que fez com que os preços permanecessem no mesmo patamar da época.

Empresas querem faturar mais em 2023 e ampliar mercado

“Em 2023, vai ter que subir a régua e alinhar um pouco, porque o cachê dos fornecedores está mais alto, uma vez que os mesmos tiveram aumento de custos”, explica o empresário.

Segundo Bortolini, o valor pago por cada estudante vai de R$ 400,00 a R$ 800,00 nos níveis fundamental (9° ano), médio e técnico; e pode variar de R$ 1.000,00 a R$ 1.500,00 para formandos do nível superior.

Esses preços incluem registros e coberturas de momentos especiais ao longo do ano, além das fotos que são usadas nos convites e nos painéis durante a cerimônia principal.

Destacando que o mercado está mais “sério” e profissional, Bortolini observa que hoje em dia há, ainda, o acompanhamento de comissões de pais e alunos (no caso da graduação).

“Os clientes também pesquisam bastante e se informam bem antes de contratar este serviço”, comenta o empresário, admitindo que até pouco tempo atrás este produto era muito oferecido por golpistas que ou “entregavam menos do que prometiam ou simplesmente pegavam o dinheiro do pagamento adiantado e sumiam no dia do evento”.

De acordo com o coordenador pedagógico da Rede de Escolas São Francisco (responsável por administrar o Instituto São Francisco, na Zona Norte de Porto Alegre), César Roberto Ritter, cada comissão atua também para organizar os eventos, denominados na instituição como celebrações de encerramento – realizadas no Nível II (educação infantil, transição para o 1° ano do ensino fundamental), 9° ano e 3° ano do ensino médio.

“No Nível II, a celebração é organizada pelas professoras e famílias dos estudantes; no 9° ano, a comissão é formada pelos líderes de turma, e no 3° ano do Ensino Médio, uma comissão específica é definida para a celebração.

São tratados os cronogramas de atividades, encaminhamentos de contratos (se for o caso), cronograma de ações específicas dos concluintes, entre outros”, explica.

Já no Colégio Anchieta – localizado no bairro Três Figueiras, em Porto Alegre –, a cerimônia é organizada pela escola em parceria com a comissão de pais.

O colégio promove cerimônias de transição da educação infantil para fundamental I; depois do fundamental I para fundamental II, e também cerimônia de conclusão do ensino fundamental II e cerimônia de despedida do ensino médio. Todas acontecem no campus do Anchieta, exceto a do ‘terceirão’, que sempre é realizada em um espaço de eventos, como a da Fiergs (caso deste ano).

Do puxadinho da escola ao auditório da Fiergs

“Esta é uma característica do mercado. No ensino médio, a solenidade deixou de acontecer num puxadinho, numa área coberta da escola, para ocorrer em locais bastante estruturados, como é o caso da Fiergs”, pontua Bortolini.

“E as empresas precisam oferecer diferenciais como painel de led, iluminação bonita, um show como atração final. Os estudantes querem este glamour, e, se você não oferece isso, está fora.”

Outro espaço físico que acaba servindo de palco para as cerimônias são salões das universidades, a exemplo da PUCRS, que possui um setor comercial, responsável pela locação para clientes externos, dentre eles escolas e produtoras de formaturas.

“A maioria das escolas (de educação infantil, de ensino fundamental, médio e até outras universidades) nos procuram porque não possuem espaços físicos adequados para a realização das solenidades em suas estruturas.

Hoje, atendemos formaturas desde auditórios de 200 lugares até o Centro de Eventos, que recebe 2.500 pessoas”, detalha a assessoria de comunicação da PUCRS.

“Antes da pandemia recebíamos solicitações com maior antecedência, cerca de um a dois anos antes.

Pandemia mudou o mercado

Em 2022 o processo mudou um pouco, por conta das incertezas que a pandemia gerou e passamos a receber solicitações cerca de seis a três meses antes.”

No caso da educação infantil, as pompas não chegam a tanto: as produções “se limitam” a uma decoração bacana, com sonorização.

Por isso, o investimento dos pais é menor. “No Nível II custa R$ 40,00 por aluno e no caso do 9° ano as produtoras cobram R$ 190,00 por aluno”, detalha o coordenador pedagógico da Rede de Escolas São Francisco.

Na Escola de Aplicação Feevale, as formaturas também iniciam a partir do final 9º ano. “Esta solenidade acontece no salão de atos da Universidade Feevale, sem custo nenhum, e é mais simples, apesar de muito bonita”, explica a diretora pedagógica da instituição, Janine Vieira.

“Ao final do ensino médio, a solenidade é um pouco mais elaborada e acontece no Teatro Feevale. Para os estudantes que querem esta cerimônia é contratada uma produtora que irá fazer as fotos e filmagens”, explica.

Neste caso, são os pais que entram em contato com a empresa, emenda Janine, pontuando que a escola não se envolve com valores e somente ajuda na organização pedagógica.

Investimento das famílias

Mãe de um estudante recém formado no ensino médio e técnico, a dona de casa Gizele Nunes Schmidt (48 anos) detalha que o investimento na conclusão dos ciclos vai além dos R$ 400,00 por aluno pagos para a produtora responsável pelo registro da cerimônia.

Para a realização da festa, incluindo decoração, comes e bebes, este ano o investimento foi de R$ 9 mil, arrecadados pela turma através de diversas ações, como festa junina, venda de sanduíches, entre uma série de outras.

A alegria de ver o filho Guilherme se formando vale todo o empenho, na opinião da dona de casa. “A solenidade da turma do Guilherme aconteceu há poucos dias e foi muito emocionante porque encerrou com 100% de aproveitamento aquelas expectativas criadas lá na educação infantil, quando ele entrou oficialmente para a escola.”

Tudo indica que o pensamento de Gizele é compartilhado por outras famílias de alunos da rede de ensino fundamental e médio.

“Temos observado o crescimento do público presente. Os nossos maiores espaços já estão com pouca disponibilidade para dezembro de 2023, mês de grande procura para estes eventos”, endossa a assessoria de imprensa da PUCRS.

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