POLÍTICA

Polícia abre investigação sobre cartaz com suástica na câmara

Entre os flagrados na confusão há um envolvido no caso das roupas da Ku Klux Klan em ato no Parcão em 21 de abril; há também indícios que estabelecem ligações com um grupo supremacista branco nos EUA
Por Matheus Chaparinni / Publicado em 21 de outubro de 2021
Oito vereadores e vereadoras fizeram denúncia na Delegacia de Combate à Intolerância

Foto: Jurema Josefa/Divulgação

Oito vereadores e vereadoras fizeram denúncia na Delegacia de Combate à Intolerância chefiada pela delegada Andréa Mattos

Foto: Jurema Josefa/Divulgação

Gritaria, troca de empurrões e até soco na cara fizeram parte de um cenário lamentável durante a discussão sobre o projeto de passaporte vacinal na câmara de Porto Alegre, na tarde dessa quarta-feira, 20. A cereja do bolo: cartazes com suásticas, símbolo nazista, exibida no plenário do Legislativo. Na confusão, vereadores e assessores foram agredidos.

Na manhã desta quinta-feira, um grupo de oito vereadores e vereadoras fizeram uma denúncia na Delegacia de Combate à Intolerância. Foram registradas três ocorrências: por apologia ao nazismo, por racismo contra as vereadoras negras e por agressão a um assessor do vereador Aldacir Oliboni.

Líder da Oposição, o vereador Pedro Ruas (PSOL) avaliou o episódio como gravíssimo.

“Tenho sete mandatos e nunca tinha visto algo parecido. As galerias fazerem pressão é legítimo. Mas era uma pressão pesada, violenta, e portando dois cartazes com suásticas”

Os vereadores de oposição preparam uma manifestação para segunda-feira, 25, às 13h30, na rampa de acesso à câmara.

Investigação

A delegada Andréa Mattos, titular da delegacia de Combate à Intolerância, abriu inquéritos para apurar os fatos.

“Demos início às investigações e estamos tentando identificar os indivíduos envolvidos. Tem muito material para ser analisado. Nos próximos dias, pretendemos chamar os envolvidos para serem ouvidas na delegacia”

De acordo com a delegada, um dos indivíduos flagrados na confusão esteve envolvido em inquérito que investigou o ato de 21 de abril no Parcão, onde manifestantes usaram roupas semelhantes às da Ku Klux Klan, também há indícios que estabelecem ligações com um grupo supremacista branco dos Estados Unidos.

Projeto vazio

Apesar de motivar um acalorado debate, o projeto tem impacto nulo. Por 18 votos a 14, os vereadores mantiveram o veto do prefeito Sebastião Melo à proposta que torna obrigatória a comprovação da vacinação contra a covid-19 em eventos esportivos, religiosos, de entretenimento e outros. No entanto, o passaporte vacinal é exigido por decreto estadual em todos os municípios gaúchos

“Não somos empregadas”

A vereadora Laura Sito (PT) afirma que sofreu ofensas racistas por parte de mulheres que protestavam contra o passaporte vacinal. Laura estava no plenário, distante da confusão, quando ocorreram os xingamentos.

“Há um contexto que faz ela se sentir à vontade de falar daquela forma para nós, vereadoras negras, e não para os vereadores brancos que estavam no meio da confusão de onde elas foram tiradas.”

Enquanto eram retiradas do plenário, algumas das manifestantes gritavam que as vereadores eram suas empregadas. “Somos representantes eleitas da população e não somos empregadas delas. Esse olhar reproduz uma visão colonial das relações, isso caracteriza a ideia racista.”

Ex-CC da prefeitura

Um dos envolvidos no conflito teve cargo comissionado na prefeitura de Porto Alegre de agosto até o início de outubro deste ano. Antonio Henrique Antunes Bertolin foi gerente de projetos no gabinete da direção do DMAE. A prefeitura emitiu nota afirmando que ele foi exonerado “por não cumprir suas atividades.”

Procurado pela reportagem, Bertolin negou que tenha portado o cartaz. Afirmou ainda que as agressões foram iniciadas por vereadores. “Fui agredido e reagi à agressão”, disse. Ele disse que registraria ocorrência policial.

Segundo Bertolin, os cartazes não eram apologia ao nazismo, mas uma crítica às medidas sanitárias.

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