ECONOMIA

Indicado por Bolsonaro para presidência da Petrobras tem ligações com o mercado privado

Sócio de consultoria e influente no setor energético, economista defende a abertura do mercado nacional, a entrega do pré-sal e o desmonte da estatal
Por Gilson Camargo / Publicado em 29 de março de 2022

Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

O economista Adriano Rodrigues, que substitui o general Silva e Luna no comando da estatal

Foto: Luis Macedo / Câmara dos Deputados

Os papeis da Petrobras na Bolsa de Valores caíram mais de 4% antes do comunicado do Ministério de Minas e Energia sobre a mudança de comando da estatal. A saída do general da reserva do Exército Joaquim Silva e Luna e a indicação do economista Adriano José Pires Rodrigues para a presidência da estatal foram confirmadas na noite de segunda-feira, 28, por meio de nota do ministro Bento Albuquerque que fez o mercado reagir, amenizando as “perdas” da empresa.

Privatista e com trânsito no mercado de energia, Rodrigues não representa mudanças nas políticas de paridade internacional que levaram ao descontrole de preços dos combustíveis no país, mas um nome que interessa aos acionistas. Economista com doutorado pela Universidade de Paris XIII e mestre em planejamento energético, Rodrigues ainda terá que passar pela avaliação da Assembleia Geral Ordinária da companhia, no dia 13 de abril. No dia 7 de março, Bolsonaro havia conduzido o presidente do Flamengo, Rodolfo Landim, ao Conselho de Administração da Petrobras. Esta indicação é alvo de um pedido de investigação do Tribunal de Contas da União (TCU).

A indicação do economista no lugar do militar foi festejada pelo mercado de ações. Afinal, Rodrigues atua há mais de 30 anos no setor energético, tem ligações com o mercado privado e é um defensor da privatização da Petrobras. “Enquanto a empresa for de economia mista, tendo o Estado como controlador, seus benefícios corporativos e as práticas monopolistas serão mantidos – a favor da corporação e muitas vezes contra os interesses do Brasil”, escreveu em outubro de 2021 em sua coluna no Poder 360, do qual é colaborador desde 2017, depois de ter passado pelo Estadão (2014 a 2017).

O economista defende medidas, além da privatização, como a criação de um fundo de estabilização dos preços, com o uso parcial da receita adicional dos royalties do petróleo recebidos pelo governo; a adoção de uma Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico (CIDE); e volta da conta-petróleo – mecanismo que permite ao Tesouro Nacional bancar a diferença entre o preço do petróleo importado e o produzido no país.

Ele é contra uma intervenção na estatal ou congelamento de preços. “Se o caminho for o da intervenção vai ser um desastre para o país. O congelamento dos preços é a pior política possível. Sempre que se faz políticas de congelamento o resultado imediato é gerar um desabastecimento, e o desabastecimento de combustíveis no Brasil seria uma tragédia”, afirmou em entrevista.

Interesses privados

As relações com o mercado privado já atrapalharam a participação de Rodrigues no setor público. Ele é sócio-fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), uma consultoria privada para assuntos estratégicos no setor de energia. No CBIE, coordena projetos e estudos para a indústria de gás natural, a política nacional de combustíveis, o mercado de derivados de petróleo e gás natural. Nomeado para o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), em 2018, foi vetado pelo TCU a pedido do Ministério Público.

Na decisão publicada em 2020, a ministra relatora do TCU, Ana Arraes, apontou possível conflito de interesses com base na Lei 12.813/2013: o “ocupante de cargo ou emprego no Poder Executivo federal deve agir de modo a prevenir ou a impedir possível conflito de interesses e a resguardar informação privilegiada”.

“Adriano Pires é sempre fonte de informação da imprensa tradicional, defendendo a completa abertura do mercado energético nacional, a entrega do pré-sal e o desmonte da estatal”, afirma em nota a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet).

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