ECONOMIA

Copom baixa juros da Selic, mas protestos continuam

É o índice mais baixo desde abril de 2022; em 2020 a taxa chegou a ser de 2% durante boa parte do ano. Setores produtivos ainda consideram os juros atuais muito elevados
Por César Fraga / Publicado em 21 de setembro de 2023

Copom baixa juros da Selic mas protestos continuam

Foto: Copom/Divulgação

Foto: Copom/Divulgação

Na última quarta-feira, 20, como já era esperado, o Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central (BC),fez nova redução da taxa de juros básica da economia brasileira (Selic), que passa de 13,25% para 12,75%. A redução do índice aconteceu pela segunda reunião consecutiva num contexto de pressão de diversos setores da sociedade civil contra os juros altos praticados no país. É a menor taxa desde abril de 2022, quando registrava o mesmo patamar (12,75%). A Selic saltou de 2,25% em junho de 2020, nos primeiros meses da pandemia, subindo gradativamente para os índices atuais.

As reuniões acontecem desde 1996 e, desde então, o índice já teve à mínima de 1% ao ano (em novembro de 1997) até a máxima de 38% ao ano (em janeiro de 1998). Para controlar a inflação, a Selic pode subir ou cair por diversos motivos, mas geralmente a inflação e o nível de atividade econômica são seus dois principais fatores. A Selic se manteve 13,75% ao ano de junho de 2022 ao início de agosto de 2023, quando caiu pela primeira vez no período, para 13,25%. (Clique para ver a série histórica desde 1996 até hoje)

Na nota em que o Copom anuncia o novo índice fica a indicação pela continuidade do ciclo de cortes. “Em se confirmando o cenário esperado, os membros do Comitê, unanimemente, anteveem redução de mesma magnitude nas próximas reuniões e avaliam que esse é o ritmo apropriado para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário. O Comitê ressalta ainda que a magnitude total do ciclo de flexibilização ao longo do tempo dependerá da evolução da dinâmica inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, diz a nota.

“O comitê confirma o que o Banco Central já vinha indicando nos boletins Focus, de queda paulatina de 0,50 ponto percentual (p.p.). Com isso, a expectativa é de uma Selic de 11,75% no final de 2023 e de 9% no final de 2024”, explicou a economista da subseção do Dieese na Confederação Nacional dos Trabalhadores no Ramo Financeiro (Contraf-CUT), Vivian Machado.

Com a decisão do Copom, fica confirmada a mudança da política monetária contracionista, que torna os empréstimos mais caros às famílias e empresas, desencoraja investimentos e aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos da dívida pública, iniciada em janeiro 2021 e mantida até agosto de 2023.

“Essa mudança de rumo é positiva, mas, como sociedade civil organizada, como trabalhadores e trabalhadoras, precisamos manter a pressão. Se puxarmos o histórico, veremos que as decisões do Copom são sempre baseadas no mercado e não nos interesses da população e do desenvolvimento do país. Essa inflexão, portanto, é fruto dessa clareza que a população vem ganhando sobre a obrigação dessa entidade nos rumos da economia do país”, avaliou a presidenta da Contraf-CUT e vice-presidenta da CUT Nacional, Juvandia Moreira.

O movimento sindical iniciou, no início do ano, uma série de protestos, incluindo atividades educativas nas redes sociais, sobre como a Selic impacta na vida da população. Entidades que representam a indústria e o governo federal também vinham se manifestando contra a política monetária do BC, de viés contracionista.

Em abril, uma pesquisa realizada pelo Datafolha já mostrava o resultado dessa pressão, quando apontou que 80% dos entrevistados concordam com a pressão que o presidente Lula (PT) fez sobre o BC pela redução da Selic.

Para entender melhor:

– O Copom, entidade do BC, se reúne por dois dias, a cada 45 dias, para definir a taxa básica de juros do país. Neste último encontro (19 e 20 de setembro), a decisão foi pela redução de 0,50 p.p. no índice, que passa de 13,25% para 12,75% ao ano.

– Apesar do corte, que faz com que a Selic alcance o menor índice em 16 meses, o Brasil segue com uma taxa básica de juros elevadíssima e com um dos maiores juros reais (resultado da Selic menos a inflação) do mundo.

– A Selic elevada torna os empréstimos mais caros às famílias e empresas, desencoraja investimentos e aumenta a dívida do Estado brasileiro com o pagamento de juros dos títulos do Tesouro Nacional.

– Logo, os principais beneficiados com a Selic elevada são os detentores dos títulos da dívida pública, que atualmente são as instituições financeiras.

– Sondagem realizada pelo Dieese mostrou que cada ponto percentual na taxa Selic significa um aumento anual do custo da dívida pública de cerca de R$ 38 bilhões. Esse valor deixa de ir para educação, saúde ou infraestrutura.

– Em três anos, sob a presidência de Roberto Campos Neto no BC, a Selic passou de 2% ao ano, em janeiro de 2021, para 13,75% em agosto de 2022 – nível mantido até agosto deste ano quando, finalmente, o Copom deu iniciou ao ciclo de redução do índice.

– Economistas de tendência desenvolvimentista avaliam que uma taxa básica de juros razoável deveria estar no patamar de, pelo menos, um dígito/ CUT-

– Os países da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico, que reúne 38 países de economias mais avançadas) trabalham com juros básicos muito mais baixos que o brasileiro. Na União Europeia, por exemplo, o índice está em 4%. Entretanto, o Brasil não poderia reduzir a Selic para esse nível por ter moeda menos valorizada.

– A expectativa do mercado, na próxima reunião do Copom, é de um novo corte de 0,50 p.p. e que, continuando a tendência de corte, a Selic alcance 11,75% no final do ano e um dígito (9%) apenas no final de 2024.

 

Comentários