EDUCAÇÃO

Grupo paulista assume controle da mantenedora da Ulbra no Rio Grande do Sul

Associação Luterana do Brasil (Aelbra) se retira da administração da Ulbra no Rio Grande do Sul em meio ao processo de Recuperação Judicial e dívidas superiores a R$ 9 bilhões
Por Gilson Camargo / Publicado em 10 de março de 2022

Foto: Ulbra/ Divulgação

Vista aérea do campus da Ulbra Canoas: a Aelbra vendeu a administração e todas as operações no estado

Foto: Ulbra/ Divulgação

Em um comunicado enviado por e-mail à comunidade acadêmica na tarde desta quinta-feira, 10, a Associação Educacional Luterana do Brasil (Aelbra), mantenedora da Rede Ulbra de Educação, informou a venda da administração da Ulbra no Rio Grande do Sul para a Rede Evolua de Educação.

A Rede Evolua é um grupo privado com a expertise na recuperação de escolas que se encontram em dificuldades financeiras. Com sede em São Paulo, onde administra três colégios, a Rede Evolua foi formada em 2020, durante a pandemia, com foco na educação básica e no ensino superior.

A Aelbra e a Evolua não informaram valores envolvidos na operação nem deu detalhes sobre o andamento da operação. A Aelbra informou apenas internamente que essa foi a saída para “equacionar as questões financeiras”.

Em maio de 2019, a mantenedora da Ulbra ingressou na justiça com um pedido de Recuperação Judicial para obter condições mais favoráveis de negociação das dívidas com credores.

Após uma sequência de decisões judiciais que se arrastaram por anos, tanto contrárias quanto favoráveis à instituição, o pedido foi aprovado pela Assembleia de Credores no ano passado, mas acabou paralisado por decisão do Tribunal de Justiça do RS por conta de dívidas da Aelbra com a União.

A Aelbra destacou que o comprador assumiu a administração da universidade “com um projeto educacional que preserva o DNA da Ulbra e mantém o propósito de promover a excelência acadêmica”.

De acordo com o Plano de Recuperação Judicial, o passivo da Aelbra com fornecedores é de aproximadamente R$ 3,6 bilhões. São R$ 2,7 bilhões de dívidas com bancos e instituições financeiras, R$ 770 milhões em débitos trabalhistas, R$ 51,6 milhões em garantias reais e R$ 71,5 milhões em débitos com fornecedores de pequeno e médio porte. Considerando o passivo que a instituição mantém com a União e que gerou a suspensão da Recuperação Judicial, as dívidas chegam a aproximadamente R$ 9 bilhões.

Grupo de investidores

Em novo comunicado nesta tarde, a assessoria do Grupo Evolua afirma que dará seguimento ao projeto educacional da Ulbra, “mantendo o DNA e a tradição de quase 50 anos da rede de ensino com sede em Canoas” e que “a ação será possível com a entrada de um grupo de investidores na operação”. A mudança no comando da mantenedora se deu em comum acordo com os antigos sócios e as prioridades da Rede Evolua serão fazer melhorias na operação, implantar uma administração profissionalizada e levar a universidade a recuperar sua capacidade de investimentos com foco no ensino, informa. “A nova gestão busca capitalizar o negócio de modo a preservar a qualidade de ensino e a operação, de forma viável, saudável e que permita a perpetuidade do negócio”.

“A chegada de um projeto robusto, com o aporte de recursos financeiros que possibilitam à instituição enfrentar a recuperação judicial e a dívida tributária, é uma boa notícia a todos e especialmente à comunidade educacional. Sem um investidor e com a suspensão da Recuperação Judicial, no início de fevereiro, o caminho mais provável seria a falência”, ressalta Marcos Ziemer, que foi reitor da Ulbra após a queda de Ruben Becker e atualmente é diretor executivo da Aelbra.

Como primeira medida os novos administradores buscarão resolver o impasse com a Fazenda Nacional para quitar os débitos tributários com a União, o que passou a ser um impedimento para que a instituição prosseguisse com as negociações dentro do plano de recuperação. Com essa nova estratégia também os credores da universidade, que acumula dívidas de quase R$ 9 bilhões, ganham novas perspectivas de uma solução para o caso. “A Ulbra, desta forma, encontra novamente um rumo consistente para voltar a ser referência nacional em ensino”, aposta o grupo.

Foto: Redes Sociais/ Reprodução

Carlos Augusto Melke Filho será o novo presidente da Aelbra

Foto: Redes Sociais/ Reprodução

“Vamos trabalhar para que a Ulbra seja reabilitada e para que volte ao topo da pirâmide das instituições educacionais brasileiras, onde já esteve e tem plenas condições de retornar. Temos absoluta confiança nisso ou não estaríamos assumindo esse compromisso”, afirma Carlos Melke, que será novo presidente da Aelbra. Bacharel em Direito e fundador da Rede Evolua, Melke tem experiência de mais de década junto à gestão de grandes grupos educacionais. Ele já foi sócio da Lide MS – Grupo de Líderes Empresariais em Campo Grande, Mato Grosso do Sul e da Universidade Brasil.

Fraude do Fies

Em 2020, junto com João Pedro Palhano Melke, o advogado Carlos Augusto Melke Filho  foi alvo da operação Vagatomia, da Polícia Federal, em uma investigação de venda de vagas em Medicina e fraude milionária do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies). O caso tramita na Justiça Federal de São Paulo, sob o processo 5000522-77.2020.4.03.6124.

Em nota, a assessoria de Melke afirma que pediu a suspensão do processo. “Não há envolvimento com fraude no Fies. Melke era advogado de uma instituição de ensino que enfrentou questionamentos a respeito do tema, em 2019. A defesa de Melke apontou falhas no processo envolvendo o advogado e ingressou com recurso no STF pedindo a suspensão do processo. O pedido de suspensão aguarda decisão, mas já teve parecer favorável”.

A reestruturação administrativa e financeira terá à frente Antônio Carlos Romanoski, advogado que já atuou na recuperação de diferentes empresas em crise financeira, como Gafisa, Flytour e Companhia Paranaense de Energia (Copel). Romanoski será como vice-presidente da Aelbra.

“Entendo muito de cenários de crise. Meu papel é trazer a solução, que em alguns casos está aqui dentro, assim como agregar valor ao que é feito pela universidade. O investimento na Ulbra é de longo prazo e queremos ver novamente as pessoas com orgulho de trabalharem nesta instituição, que seguirá com seu DNA luterano”, explica Romanoski.

Confira a íntegra do comunicado:

“No ano em que completa 50 anos, a Ulbra dá um importante passo na busca de seu equilíbrio financeiro ao anunciar a chegada de um novo projeto de gestão para a mantenedora da instituição. A Rede Evolua de Educação assume como nova administradora da Aelbra. 

Com a expertise de quem administra outras três instituições de ensino no país, a Rede Evolua de Educação chega para trabalhar no sentido de equacionar as questões financeiras da instituição, com um projeto educacional que preserva o DNA da Ulbra e mantém o propósito de promover a excelência acadêmica. A mantenedora ressalta “a manutenção do projeto educacional que já formou mais de 200 mil profissionais em seus diferentes cursos de graduação”. Vamos recolocar a Ulbra no caminho do crescimento, pois somos uma das maiores instituições de ensino do país, presente em seis Estados brasileiros. 

Importante ressaltar, neste momento, a manutenção do projeto educacional que já formou mais de 200 mil profissionais em seus diferentes cursos de graduação. Vamos recolocar a Ulbra no caminho do crescimento, pois somos uma das maiores instituições de ensino do país, presente em seis Estados brasileiros. 

Reforçamos a gratidão e o respeito por toda a comunidade acadêmica e escolar que, com sua dedicação, é parte indissociável da história de sucesso desta instituição cinquentenária.”

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