JUSTIÇA

Promotora pede afastamento do caso Marielle

Integrante da força-tarefa do MPRJ que investiga os assassinatos de Marielle Franco e Anderson Gomes fez campanha para Bolsonaro em 2018
Por Gilson Camargo / Publicado em 1 de novembro de 2019

Imagem: Reproduções

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A promotora de Justiça Carmen Eliza Bastos de Carvalho pediu afastamento da Procuradoria-Geral de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) na tarde desta sexta-feira. A promotora integrava o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do MPRJ que investiga o assassinato da vereadora Marielle Franco (PSol) e do motorista da parlamentar, Anderson Gomes. O crime ocorreu na noite de 14 de março de 2018 e, após uma série de contradições, erros, interferências externas e vazamento de informações, as investigações conjuntas do MPRJ e da polícia civil ainda não apontou os mandantes. O autor dos disparos e o motorista que conduziu o atirador na perseguição, execução das vítimas e fuga, foram presos em março.

Carmen pediu afastamento após a exposição pela imprensa da sua posição pró-Bolsonaro, incompatível com o papel que ela exercia como integrante da equipe de investigação do caso Marielle junto ao MP. Nas redes sociais, a promotora aparece em fotos vestindo uma camiseta com a estampa da foto de Bolsonaro, postagens de apoio ao então candidato à presidência e comemorações após a eleição. Carmen também posa ao lado do deputado estadual Rodrigo Amorim (PSL-RJ), apoiador de Bolsonaro e um dos candidatos que, durante a campanha, quebrou a placa com o nome da vereadora Marielle Franco afixada praça Marechal Floriano, em frente à Câmara Municipal do Rio.

Em nota, o MPRJ alega que a promotora teve sua imparcialidade questionada “por exercer sua liberdade de expressão como cidadã, nos termos do art. 5º da Constituição Federal” e que sua designação para o caso “foi definida por critérios técnicos, pela sua incontestável experiência e pela eficácia comprovada de sua atuação em julgamentos no Tribunal do Júri”. A Corregedoria-Geral do MPRJ instaurou procedimento para análise da conduta da promotora. O Gaeco/MPRJ informou que nesta sexta-feira recebeu os pais de Marielle Franco, Marinete da Silva e Antônio Francisco da Silva, e a viúva de Anderson Gomes, Agatha Arnaus Reis, que defenderam a permanência de Carmen Eliza à frente do processo penal, em andamento no Tribunal de Justiça. No entanto, “em razão dos acontecimentos recentes, que avalia terem alcançado seu ambiente familiar e de trabalho”, a promotora optou “voluntariamente por não mais atuar no Caso Marielle Franco e Anderson Gomes”. O abalo que a promotora alega ter sofrido pela exposição do seu apoio a Bolsonaro, no entanto, não deve ser maior que o flagelo a que a promotoria submeteu a família do pedreiro Amarildo de Souza. Em 2013, a promotora Carmen Carvalho alegou falta de provas e arquivou a ação contra os policiais acusados de assassinar e sumir com o corpo de Amarildo, desaparecido da favela da Rocinha em julho daquele ano.

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