JUSTIÇA

Ataques a escolas aproximam Brasil do que há de pior na cultura norte-americana, diz educador

Para Daniel Cara, ataques como os de SC e SP refletem banalização da violência dos school shotters nos massacres desse tipo em escolas dos EUA
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 5 de abril de 2023
Ataques em escola no Brasil

Foto: Reprodução

Daniel alerta que o fenômeno dos school shottings nos EUA estão replicados no Brasil: violência com protocolo e pauta neonazista

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“Hoje a sociedade brasileira já se assemelha àquilo que existe de pior em termos de segurança pública na sociedade dos Estados Unidos”.

A opinião é do professor e pesquisador da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP), Daniel Cara, manifestada após o que ele pontua ser um momento muito triste: o massacre em uma creche privada em Blumenau, Santa Catarina.

Na manhã desta quarta-feira, 5, um jovem armado com um machado invadiu o Centro Educacional Infantil (CEI) e provocou a morte de quatro crianças com idades entre quatro e sete anos e deixou um saldo de cinco feridos, um em estado grave.

Para o educador, há um escalonamento de casos no Brasil, ou seja, os ataques estão se tornando cada vez mais frequentes e com menor espaço de tempo entre cada atentado.

Em uma live logo após o massacre de Blumenau, ele apontou que existe um protocolo e organização pautada em estratégias neonazistas nesses ataques.

Escalonamento de casos de ataques

Daniel Cara foi um dos coordenadores do grupo temático da educação no processo de transição do governo Bolsonaro para o do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Ele lembra que, na ocasião, um grupo de 12 pesquisadoras que monitora casos de violência nos estabelecimentos de ensino no país alertou que há um crescimento escalonado nos últimos dois anos de fatalidades como a da creche catarinense e o da escola paulista onde uma professora de 71 anos de idade foi assassinada por um estudante na semana passada.

Os números apontam quatro ataques no segundo semestre de 2022 e dois ataques fatais em menos de um mês já em 2023.

Isto sem contar a recente internação preventiva de um adolescente pela Justiça do Rio de Janeiro sob suspeitas de planejar um atentado a uma escola e uma tentativa debelada pelas forças de segurança do estado de São Paulo em Monte Mor, quando um adolescente foi apreendido em fevereiro após lançar bombas caseiras contra uma escola.

“A pergunta nunca foi se aconteceria um novo ataque com mortes. Mas quando. Ocorreu hoje, em uma creche em Blumenau, após muitas tentativas e alguns ataques sem vítimas que aconteceram em todo o país desde no dia seguinte ao ataque de 27 de março, na Vila Sônia. Essa chaga precisa ser enfrentada. Todo o Brasil precisa agir com urgência. É o recado dado no nosso relatório”, diz o educador.

Ação conjunta 

Coincidentemente, um dia antes do ocorrido no CEI Cantinho do Bom Pastor, Cara tinha conversado com um correspondente do The Washington Post, um dos principais jornais norte-americanos, que está produzindo uma matéria comparativa entre os episódios ocorridos no Brasil com a histórica situação naquele país.

Só nos três primeiros meses deste ano, os Estados Unidos contabilizaram 19 tiroteios em estabelecimentos de ensino. O último, em uma escola primária deixou um saldo de sete mortos.

“Existem questões específicas para cada país, mas o fenômeno social se assemelha, infelizmente, de maneira demasiada. Tive a oportunidade de conversar também com pessoas que têm pesquisas nos Estados Unidos próximas a agências de inteligência que me perguntaram como nós víamos esse problema aqui”, relata.

Para Cara, a questão exige uma força conjunta internacional.

“Todos esses ataques e mesmo toda a propaganda que os motivam são articuladas nas redes sociais, nas grandes plataformas que praticamente estão todas sediadas nos Estados Unidos e que respondem muito pouco à demanda das forças de segurança do Brasil nas questões de monitoramento desses casos”, explica.

Acesse ainda artigo de Marcos Rolim 

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