SAÚDE

Rio Grande do Sul terá novo plano de doação de órgãos e transplantes

Projeto deve ser implementado já no início de 2022, segue modelos de Santa Catarina e Paraná, líderes em doação de órgãos no país, e consiste em investir em hospitais, capacitação e remuneração de equipes
Por Clarinha Glock / Publicado em 29 de setembro de 2021
RS terá novo plano de doação de órgãos e transplantes

Foto: Reprodução TV Assembleia do RS

Todos os contratos deverão estar assinados até o final do ano, prevê o médico Eduardo Elsade, diretor do Departamento de Regulação da SES/RS

Foto: Reprodução TV Assembleia do RS

Reorganização interna, informatização do processo desde a captação até o transplante de órgãos, e valorização de hospitais estratégicos, com capacitação e remuneração de equipes. Estes são os pilares principais da nova política da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul, estado que já foi líder em doação de órgãos no país e, atualmente, ocupa o oitavo lugar.

O anúncio foi feito pelo médico Eduardo Elsade, diretor do Departamento de Regulação da Secretaria Estadual de Saúde do Rio Grande do Sul, e pelo médico Rafael Rosa, coordenador da Central Estadual de Transplantes, que participaram do seminário Desmistificando a Doação de Órgãos, realizado na Assembleia Legislativa do Estado na última segunda-feira, 27, Dia Nacional da Doação de Órgãos. O evento foi organizado pela Frente Parlamentar de Estímulo à Doação de Órgãos e integrou a programação do Setembro Verde,  campanha nacional pró-doação de órgãos.

“Estamos em tratativas há mais de dois anos com estados parceiros e consideramos que o nosso projeto é complementar ao de Santa Catarina e do Paraná”, disse Elsade, na abertura do Seminário. “Esperamos que, voltando a ter alguma normalidade na área hospitalar e o estado fazendo a sua parte como está planejado, a gente inaugure o ano de 2022 num outro patamar”, afirmou.

A pandemia de covid-19 afetou duramente o estado, que já vinha tendo problemas na organização de doações e transplantes de órgãos. Em 2020 houve uma redução de cerca de 28% nos transplantes e de 17% nos doadores em relação a 2019. Atualmente, há mais de 2 mil pessoas em lista de espera por um transplante, apresentou Rafael Rosa.

Reestruturação da Central de Transplantes

Segundo Elsade, o primeiro passo da reestruturação da Central de Transplantes é reforçar as equipes internas administrativa e médica, e implantar uma equipe de enfermagem na mesa transplantadora, a exemplo do que acontece em Santa Catarina e Paraná.

“A equipe de enfermagem é responsável pela organização dos fluxos, e a equipe médica pelas decisões técnicas dos casos”, explicou. Além disso, até dezembro está prevista a informatização de todo o processo de transplantes.

Foto: Santa Casa Porto Alegre/ Arquivo/ Divulgação

Transplante de rim, o primeiro do ano no Complexo Santa Casa de Porto Alegre foi realizado na madrugada de 1º de janeiro no Hospital Dom Vicente Scherer, pela equipe coordenada pelo cirurgião Fabian Pires

Foto: Santa Casa Porto Alegre/ Arquivo/ Divulgação

“Teremos um sistema eletrônico semelhante ao do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), com um aplicativo que vai ser integrado em rede, em que cada um dos atores terá acesso, podendo acompanhar desde a identificação de um doador até o transplante”, disse o médico. O sistema deve entrar em funcionamento até o início do próximo ano.

O terceiro pilar anunciado por Elsade é a valorização de hospitais estratégicos. “Todos os hospitais estratégicos captadores – aqueles que são referência em trauma e neurologia, por exemplo – ou colaboradores da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul receberão recursos por meio do programa Assistir e deverão ter um coordenador médico e um coordenador de enfermagem específicos para a área de transplantes, que serão remunerados.

Pelo projeto, o hospital deverá apresentar os profissionais e se comprometer com metas de relatórios e acompanhamento do fluxo dentro do seu estabelecimento. Até então, o sistema privilegiava os hospitais transplantadores, com incentivos.

O projeto atual do estado deverá incentivar também os hospitais captadores de órgãos. De acordo com Elsade, receberão os recursos cerca de 30 hospitais, incluindo os que têm as Organizações de Procura de Órgãos (OPOs).

O médico lembrou que, em 2018, o estado tinha uma dívida de mais de R$ 400 milhões com os hospitais, situação que levou à desestruturação de emergências e UTIS e atraso de pagamentos – o que, segundo ele, já foi resolvido.

Com o projeto Assistir, a intenção é investir nas emergências. “Além do que já recebem do governo federal, receberão recursos entre R$ 100 mil e R$ 300 mil por mês, por emergência, além de R$ 70 mil por mês por equipe especializada, com diferencial para as UTIs e um extra para hospitais estratégicos em captação de órgãos, que deverão ter profissionais remunerados para isso”, observou Elsade.

À medida que os hospitais forem assinando os contratos aditivos do programa Assistir com o Estado, passarão a disponibilizar as equipes, que serão capacitadas e treinadas. Todos os contratos deverão estar assinados até o final do ano, prevê o médico.

As centrais de transplantes da Região Sul

Nesta quinta-feira, 30 de setembro, representantes das três centrais de transplantes da Região Sul do Brasil  apresentarão suas estratégias e resultados em painel promovido pelo projeto Cultura Doadora, da Fundação Ecarta. A atividade terá transmissão ao vivo pela canal da Fundação Ecarta no Youtube.

Participam do painel, o médico Joel de Andrade, que está à frente da Central de Transplantes de Santa Catarina há mais de 15 anos e que levou o estado à liderança na doação de órgãos do país; a representante da Central de Transplantes do Paraná, Luana Alves Tannous (a médica Arlene Badoch, coordenadora do Sistema Estadual de Transplantes do Paraná assumiu a coordenação geral do Sistema Nacional de Transplantes), e o médico Rafael Rosa, que assumiu a coordenação da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul no último mês de agosto.

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