ECONOMIA

Projeção da inflação extrapola mais do que o dobro da meta para 2021

Medidas adotadas pelo Copom são para inflação causada por uma economia hiperaquecida e não para obter resultados em momento recessivo, explica economista
Por César Fraga / Publicado em 8 de novembro de 2021

 

Foto: Tânia Rêgo/Agencia Brasil

Foto: Tânia Rêgo/Agencia Brasil

De acordo com projeção do Banco Central (BC) divulgada nesta segunda-feira,8, para a inflação deste ano, a meta definida pelo Conselho Monetário Nacional, que era inicialmente de 3,75, extrapolou e muito das faixas de tolerância de 1,5 ponto percentual acima ou abaixo. Ela já beira os 6% acima da estimativa. Ou seja, mais do que o dobro.  O limite de erro seria 2,25% para baixo e de 5,25% para cima.

Para 2022 e 2023 as metas são 3,5% e 3,25%, respectivamente, com o mesmo intervalo de tolerância. A previsão do mercado financeiro para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), índice considerado a inflação oficial do país, subiu de 9,17% para 9,33% . Esta é a 31ª elevação consecutiva da projeção. As informações são do Boletim Focus, pesquisa divulgada semanalmente pelo BC com a expectativa das instituições para os principais indicadores econômicos.

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em setembro, a alta de preços de energia elétrica, combustíveis e alimentos forçou a inflação a subir 1,16%, a maior para o mês desde 1994. Com isso, o indicador acumula altas de 6,9% no ano e de 10,25% nos últimos 12 meses.

Para 2022, a estimativa do mercado para inflação é otimista, 4,63%, assim como para 2023 (3,27%) e 2024 (3,10%). Vale lembrar que as projeções de inflação do mercado nos últimos anos sempre estiveram abaixo do que se confirmou na realidade.

Os dados oficiais de outubro serão divulgados ainda esta semana pelo IBGE, mas o IPCA-15, que é a prévia da inflação oficial, ficou em 1,20% no mês passado. No ano, o IPCA-15 acumula alta de 8,30% e, em 12 meses, de 10,34%.

A previsão para 2021 está acima da meta de inflação que deve ser perseguida pelo BC. A meta, definida pelo Conselho Monetário Nacional, é de 3,75% para este ano, com intervalo de tolerância de 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo. Ou seja, o limite inferior é 2,25% e o superior de 5,25%. Para 2022 e 2023 as metas são 3,5% e 3,25%, respectivamente, com o mesmo intervalo de tolerância.

Taxa de juros

Sob o argumento de tentar alcançar a meta de inflação, o Banco Central tem se valido da taxa básica de juros, a Selic, definida em 7,75% ao ano pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Para a próxima reunião do órgão, o Copom já sinalizou que pretende elevar a Selic em mais 1,5 ponto percentual.

As projeções do BC para a inflação também estão ligeiramente acima da meta para 2022 e ao redor da meta para 2023. Isso reforça a decisão da autarquia de manter a política mais contracionista, com elevação dos juros.

Para o mercado financeiro, a expectativa é de que a Selic encerre 2021 em 9,25% ao ano, mesma projeção da semana passada. Para o fim de 2022, a estimativa é de que a taxa básica suba para 11% ao ano. E para 2023 e 2024, a previsão é de Selic em 7,5% ao ano e 7% ao ano, respectivamente.

Quando o Copom aumenta a taxa básica de juros, a finalidade é conter a demanda aquecida, e isso causa reflexos nos preços porque os juros mais altos encarecem o crédito e estimulam a poupança. Desse modo, taxas mais altas também podem dificultar a recuperação da economia. Além disso, os bancos consideram outros fatores na hora de definir os juros cobrados dos consumidores, como risco de inadimplência, lucro e despesas administrativas.

Quando o Copom reduz a Selic, a tendência é de que o crédito fique mais barato, com incentivo à produção e ao consumo, reduzindo o controle da inflação e estimulando a atividade econômica.

Não é bem assim

De acordo coma economista Anelise Manganelli, do Departamento Intersindical de Economia e Estatística (Dieese), a solução não deveria ser buscada na política monetária e sim na fiscal. Segundo ela, a questão monetária  tem influência externa. “Uma parte do câmbio pode ser resolvida internamente, mas outra não”, explica.

Para Manganelli, a equipe econômica vem defendendo que precisa aumentar os juros para combater a inflação. No último anúncio do Banco Central no dia 27 de outubro novamente a taxa Selic foi elevada, atingindo 7,75% ao ano. Aumentar a Selic significa encarecer os custos do crédito, fazendo com que  empresas e consumidores gastem menos (redução no consumo), os financiamentos ficam ainda mais caros e estimula a poupar – dinheiro sendo remunerado a uma taxa de juros maior. Resultado: esfria a economia, dificulta retomada nos investimentos produtivos e, por sua vez, a geração de emprego.

“É uma medida que não tem resultado imediato e no contexto atual é completamente equivocada, pois o consumo está estagnado, não se trata de uma inflação de demanda e, sim, de custos”, argumenta.

Segundo a economista, a inflação cresce sob influência da pandemia (que afetou os arranjos produtivos); commodities caras (soja, petróleo, trigo, milho, minério de ferro) – que se desdobram por toda a cadeia de formação de preço; alta nos preços administrados (como tarifa de energia); e dólar caro – o real perdeu valor em relação ao dólar, produtos e insumos importados ficaram mais caros, e tudo isso é repassado para os preços, empurrando a inflação para cima. (Leia o artigo Quando a máfia assume a economia)

PIB e câmbio

As instituições financeiras consultadas pelo BC reduziram a projeção para o crescimento da economia brasileira este ano de 4,94% para 4,93%. Para 2022, a expectativa para Produto Interno Bruto (PIB) – a soma de todos os bens e serviços produzidos no país – é de crescimento de 1%. Em 2023 e 2024, o mercado financeiro projeta expansão do PIB em 2% e 2,05%, respectivamente.

A expectativa para a cotação do dólar se manteve em R$ 5,50 para o final deste ano. Para o fim de 2022, a previsão é de que a moeda americana fique nesse mesmo patamar.

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