EDUCAÇÃO

Implantação de museu e centro tecnológico no IE deixará apenas 800 metros para alunos e professores

Em coletiva, pais, estudantes, comissão de restauro e direção do Instituto de Educação apontam contradições no plano e cobram transparência do governo do estado
Por Marcelo Menna Barreto / Publicado em 9 de fevereiro de 2022

Foto: Rodrigo Waschburger

Tombado pelo Patrimônio Histórico, prédio do Instituto Flores da Cunha está no centro de um projeto de privatização do governador Eduardo Leite (PSDB)

Foto: Rodrigo Waschburger

Inconformada com a falta de diálogo com o governo do estado, a comunidade escolar do Instituto de Educação General Flores da Cunha (IE) realizou no final da manhã desta quarta-feira, 9, coletiva de imprensa para usar o seu “local de fala”.

Na expressão, utilizada pela presidente do Conselho Escolar do IE, Ceniriani Vargas, cabe espaço para um grande paradoxo: comemorar o reinício das obras de restauro do tradicional prédio que é sede da instituição e refutar a ideia apresentada pelo governador Eduardo Leite (PSDB) de fazer coabitar com a escola o que chama Museu Escola do Amanhã e um centro tecnológico de formação de professores. Não haverá espaço, foi a denúncia.

A grande insatisfação apontada pelos representantes dos pais, de estudantes, da comissão de restauro e da própria direção geral do IE que se manifestaram aos jornalistas presentes é a desconsideração com a comunidade do IE.

Foto: Marcelo Menna Barreto

Em coletiva, representantes da comunidade afirmaram que foram excluídas do processo de restauro do IE

Foto: Marcelo Menna Barreto

Desde 2011, segundo a exposição inicial, professores, pais, alunos e ex-alunos batalham pelo restauro e elaboraram o projeto. Tanto no governo Tarso Genro (PT) quanto no de José Ivo Sartori (MDB), integrantes da comunidade do IE também acompanharam as licitações que foram realizadas para a escolha da empresa responsável pelas obras.

No dia 21 de janeiro, todos foram surpreendidos com a informação: três dias antes, no dia 18, Leite não só manteve em seu discurso a instituição do museu e do centro tecnológico como não convidou ninguém do IE para o ato que realizou para marcar a assinatura da ordem de serviço de reinício das obras de restauro do prédio – que é tombado pelo Patrimônio Histórico do Estado.

Uma longa novela

Foto: Marcelo Menna Barreto

Prazo inicial para reinício das atividades da instituição era de 18 meses e já se passaram cinco anos, relata Alessandra (D)

Foto: Marcelo Menna Barreto

Alessandra Lemes, diretora-geral do IE, recorda que em 2016 os alunos e professores do IE foram distribuídos em quatro divisões (Educação Infantil e normal, Fundamental – do primeiro ao quarto ano; Ensino médio e anos finais do fundamental e Educação de Jovens e Adultos). Todos em endereços diferentes. “A expectativa era retornar em 18 meses e já se passaram cinco anos”, lamenta a diretora.

Presidente do Círculo de Pais e Mestres (CPM) do IE, Luciana Assis Brasil, aponta a precariedade que estão passando alunos e professores nesse período. “Basta ver aqui, que é a sede provisória. Não há espaço para atividades esportivas dos alunos, os refeitórios são improvisados”, exemplifica.

Além dessa reclamação, todos são unanimes na continuidade da luta por um IE 100% público e 100% ocupado para a sua atividade-fim, que foi demarcada na licitação que escolheu a empresa Concrejato para o restauro.

No fundo, uma grande crítica à ideia do governador, que tem por trás a secretaria de Educação do Estado, Raquel Teixeira (PSDB-GO), de modelar o Museu Escola do Amanhã com o Instituto de Desenvolvimento e Gestão (IDG). Organização privada responsável pela gestão de iniciativas como o Museu do Amanhã no Rio de Janeiro, o IDG deverá ainda assumir o futuro Museu das Favelas, projetado pelo também governo do estado de São Paulo, que também é do PSDB.

Vai faltar espaço

Foto: Marcelo Menna Barreto

Maria da Graça, presidente da Comissão de Restauro: “que espaço vai sobrar para a escola?”

Foto: Marcelo Menna Barreto

Maria da Graça Ghiggi Moralles, presidente da Comissão de Restauro do IE, afirma que tudo o que foi apresentado pelo governador “é como se o IE não existisse. Algo novo”.

Pior, completa. “Retira praticamente todo o espaço da escola”. De fato, dos cerca de 8 mil metros quadrados do estabelecimento, fora o ginásio de esportes e banheiros, sobram 4,8 mil metros quadrados.

É aí que se demonstra a grande incógnita apresentada. Se no ato realizado por Leite se falou que o museu e o centro tecnológico ocuparão 4 mil metros quadrados, “que espaço vai sobrar para a escola?”, questiona.

Maria da Graça ainda ironiza o discurso do governador. Para ela, ao contrário da ideia de fazer do IE um farol, os defensores da instituição querem ser um imã. “Queremos atrair estudantes, não ser luz para promoção pessoal”.

Ideia nebulosa

Foto: Rodrigo Waschburger

Acordo para implantar a “Escola do Amanhã” foi firmado por Leite na Espanha

Foto: Rodrigo Waschburger

Ceniriani Vargas afirma que “jamais vamos se opor a um museu e a um centro de formação. Acontece que não conhecemos o projeto. Em nenhum momento ele, se existe, foi apresentado para a comunidade”.

Para a presidente do Conselho Escolar do IE há uma confusão no processo. “Nós defendemos uma instituição de mais de 150 anos; o governador entende que é dono do prédio e, simplesmente, não nos escuta.

Desde outubro passado, o movimento em Defesa do Instituto de Educação General Flores da Cunha tenta uma audiência com o governador. No mesmo mês, o Extra Classe revelou que Leite fez a assinatura de um protocolo de entendimento com o IDG, em Madri, Espanha, com o objetivo de criar o Museu Escola do Amanhã.

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